Coluna Velocidade e Batom: “Carta aberta ao machismo” by Ludy Coimbra


Coluna Velocidade e Batom: “Carta aberta ao machismo” 
by Ludy Coimbra 

O machismo se manifesta em qualquer lugar, está por aí para quem quiser ver (ou não), vem nas atitudes, disfarçado nas piadinhas, enfim, formas não faltam para que ele se manifeste. E no automobilismo não é diferente. 

Quem acompanha o blog do Octeto Racing Team já deve ter com certeza, lido alguns dos meus vários posts/colunas sobre o assunto, ou visto meus comentários em episódios do “Stop and Go”, então peço desculpas por trazer novamente este assunto para discussão, mas isto se fez simplesmente inevitável. 

Ontem, dia 13 de abril, enquanto assistia ao segundo treino oficial do GP da China pela SporTV, nos minutos finais (ao fazerem suas apostas para quem conquistaria a pole position na classificação que aconteceria horas mais tarde), o narrador Sérgio Maurício apostou em Kimi Räikkönen e fez o comentário de que o fã-clube feminino do finlandês ficaria feliz com isto, uma vez que ele tem muitas mulheres que torcem por ele. #oi? #edaí? 

Então eu me perguntei: Por que me irritei com tal comentário? Não foi a primeira vez que ouvi algo assim vindo da equipe da SporTV que transmite F1. E não será a última. #fato 

Eu me irritei porque antes de ser torcedora de Kimi Räikkönen há 13 anos, sou uma mulher que acompanha F1 há 29 anos, que tem um blog sobre o assunto há 10 anos, que já foi a 11 GPs seguidos e que hoje sofre porque infelizmente não tem podido mais estar presente em Interlagos, um dos meus lugares que eu mais amo neste mundo. 

Uma mulher que já foi a corridas da Fórmula Truck, da Stock Car, que aprendeu a amar rally (por causa de quem mesmo? Sim, Kimi!!!) e que se morasse em uma cidade onde o automobilismo fosse presente, provavelmente estaria em eventos do tipo, já que como uma apaixonada por velocidade, seria algo bacana de poder viver de perto. 

Por isto eu me irrito, porque ao me rotular como fazendo parte do fã-clube de Kimi Räikkönen, sou desrespeitada não só como torcedora do Iceman, mas como mulher, uma vez que ser admiradora do sexo feminino e torcer para o finlandês são coisas intrinsecamente ligadas, na visão do narrador citado acima. Ou seja, achou bonito e pronto, escolheu o piloto para torcer. Pensamento mais século passado que já vi! 

E já vou deixar claro aqui, porque nunca fui de esconder, acho sim Kimi Räikkönen um homem bonito, não sou cega, mas isto não é nem de longe, a razão pela qual eu escolhi torcer ele. E também não tenho que me justificar, porque tenho certeza que quem me respeita como torcedora e mulher, vai saber meus motivos. São os mesmos que qualquer outro torcedor de automobilismo do sexo masculino tem. 

O que realmente me incomoda em ver tais comentários serem propagados, é este pré-conceito asqueroso de que mulheres só curtem automobilismo porque acham os homens bonitos. Não há nada mais machista, seja o comentário em tom de brincadeira ou não. Isto está tão enraizado nesta sociedade patriarcal em que vivemos que quando escuto algo assim, penso se realmente, nós mulheres estamos conquistando igualdade. 

Quem sabe um dia no mundo do automobilismo, nós torcedoras do sexo feminino (e que por acaso torcemos para pilotos que além de serem excelentes no que fazem, são bonitos) poderemos ter o mesmo respeito que os torcedores do sexo masculino têm. 

Sei que há muitos homens neste meio (sejam profissionais ou fãs como eu) que nos respeitem como torcedoras que somos, acima de qualquer coisa. Sei que eles sentem as mesmas emoções que a gente com as corridas. E agradeço a eles pelo respeito.

Porque no final, gostamos todos das mesmas coisas, bater um papo divertido sobre os GPs, encontrar os amigos anualmente em Interlagos para curtir a F1 juntos, ter altas discussões nas redes sociais, comentar sobre as novas mudanças técnicas, criticar os pilotos que a gente não curte, enfim, simplesmente compartilhar uma paixão, que não é definida por gênero, apenas por sentimentos. 

Beijinhos, Ludy

Comentários

É Ludy por mais que nós nos esforcemos, tem coisas que acho que só formatando o planeta mesmo viu pra ver se na reinstalação vem com programas mais atualizados, principalmente na humanidade... tá complicado.

By Nay
Unknown disse…
Sabe Ludy ler o que você disse sobre F1 e Kimi me fizeram lembrar o que sinto sobre esse dois assuntos. Conheci a F1 quando era pequena e fui apresentada ao melhor piloto de todos os tempos, Senna. Ele era encantador, mas como piloto entende?! Ele tinha uma determinação e amor pelo o que fazia e pelo nosso país. Nunca vi algo assim. Eu era pequena, mas me emocionava com ele. A sua morte foi algo tão triste para todos, para o esporte para à nossa nação. O meu encanto por F1 acabou por um tempo, a dor foi enorme. Conheci Mika Hakkinen e toda a minha história com a Ferrari fizeram torcer por ele. Mas não senti nem de perto como o significado que Senna e F1 representavam pra mim. Foi quando conheci um garoto tímido e estreante pela Sauber, ele com a sua falta de jeito me representava, não gostava da bajulação e mídia, ele gostava do carro da pista e velocidade.Finalmente na sua estreia pela McLaren ganhou a minha torcida.E foram assim por anos, dois vice campeonatos e um título em 2007. Sofri, torci tanto e sabe todos os anos acompanhando ele valeram a pena. Como uma feminista enfrento esse tipo de comentário com tanta indignação como você. Isso não está apenas na F1, mas na minha profissão e no dia a dia. E sim, fiz um texto enorme. Pq eu simplesmente acompanhei Kimi, em suas frustrações e irritações, nas suas decepções e chorei muito, Pq ele é simplesmente lindo, apenas por isso?!! E que ele me fez sentir a F1 de volta como na época do Senna, na minha infância com minha família, assistindo as corridas ao domingo. Sentir emoção. Mas o que estou falando eu apenas achava ele bonito.
Nay e Jaque, minhas companheiras de fã-clube... hahahaha... Obrigada pelas palavras e pelos comentários.

Anda difícil mesmo Nay, tem hora que dá vontade de desistir, mas de repente a gente se sente forte de novo e volta para a luta!!!!

Jaque, lindo seu depoimento, o que Senna representou para você, Jacques e Kimi representaram para mim. Senna me apresentou a F1, mas eu era uma menina, ele me encantou, me trouxe para o meio, Jacques e Kimi me fizeram a torcedora que sou hoje. E juro, se tivesse que escolher passar por tudo o que que passei como torcedora deste canadense e deste finlandês, mesmo com todas as dores, faria tudo de novo. Mesmo sendo acusada de torcer por eles só porque eles sempre foram bonitos demais!!! hahahaha...

bjs meninas, Ludy

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