Semana Kimi Räikkönen 2017: "21 de outubro de 2007 - Minhas lembranças"

Quando eu falo das amizades conquistas por conta do Iceman, não estou mentindo. Todos aqui participando da SKR 2017 foram aparecendo na minha vida por conta de Kimi.

E o convidado do hoje vem lá do Paraná, a gente se conheceu em um fórum internacional na época em que Räikkönen foi se aventurar no rally. 

Prestem bem atenção no lindoe tão bem escrito texto de Levi Davet.



"21 de outubro de 2007 - Minhas lembranças" por Levi Davet

"Um milagre de outubro"


Ludy, você me pediu um texto sobre o título apoteótico do Kimi em 21/10/2007, o qual terá seu aniversário de dez anos em alguns dias. Eu me lembro daquela corrida muito bem, mas não sei se consigo me limitar apenas àquele dia... São muitas memórias do Kimi nesses anos todos e elas acabam se misturando umas às outras. 

2007 não é um ano do qual eu gosto de me lembrar, pois fez parte do pior período da minha vida. Nesse sentido, a alegria que Kimi me deu ao conquistar o título foi um alento a alguém que passava por momentos muito conturbados e que se encontrava doente da alma. Eu não demonstrava ser uma pessoa problemática, mas tudo estava ali na minha cabeça, me destruindo aos poucos. É bastante possível que eu tenha me sustentado em tempos tão difíceis por pura sorte e um pouco de resiliência do meu espírito. 

Contudo, como foi você quem me pediu esse texto, e eu não posso negar um pedido tão carinhoso de uma pessoa tão querida, decidi escrevê-lo. 

O ídolo de Kimi na F1 é o James Hunt. Todo mundo sabe disso. James Hunt era um hedonista de marca maior e aproveitou cada minuto de sua fama com mulheres, cigarro, bebidas e carros velozes. Apesar desse perfil de “bad boy”, tinha a sua noção de honra e não levava desaforo para casa. Era, acima de tudo, um competidor leal. 

Kimi é uma versão um pouco mais “racional” de James Hunt. O finlandês não gosta do que chamo de “bullshit”. Não gosta de frescura. O negócio dele ali é correr de carro. Jogos mentais e política interna são assuntos alienígenas para ele. 

Esse comportamento é um problema na hora de conseguir o apoio da equipe, mas é do que os fãs gostam, especialmente porque Kimi soa autêntico e, devido ao seu domínio não muito grande do inglês, expressa-se de maneiras que os fãs e até mesmo os jornalistas por vezes consideram esdrúxulas. 

Ele é também o tipo de piloto que está liderando com folga uma corrida e começa a pensar na vida, no Universo e em todo o resto, e acaba errando uma curva, o que quase nunca resulta em problemas, mas é meio engraçado de ver. Na Austrália ele havia aprontado uma dessas! 

A citação a James Hunt é apropriada porque acredito que até na conquista de seus títulos Kimi e Hunt possuem algumas semelhanças entre si. 

A história de Hunt é uma das mais famosas do automobilismo: numa corrida chuvosa em que Lauda, traumatizado pelo acidente macabro que sofrera no Nordschleife meses atrás, abdicou da disputa tão logo a prova se iniciou, Hunt tentou fazer o seu resultado, teve dificuldades pelo caminho e só descobriu ser campeão após a bandeira quadriculada, quando lhe informaram o resultado oficial. Era a consagração do mais romântico dos pilotos da era romântica, aquele que todos queriam ser, que todos acreditavam ser feliz em sua vida boêmia e veloz. 

Kimi por sua vez chegou a Interlagos como azarão, numa prova igualmente chuvosa. O favorito era Lewis Hamilton, o estreante e protegido de Ron Dennis que havia sido uma pedra no sapato do bicampeão Fernando Alonso por toda a temporada. O finlandês precisava de uma combinação improvável de resultados para levantar o caneco. E não é que ela aconteceu? 

Lewis Hamilton sucumbiu à deficiente drenagem de Interlagos, salvo engano na entrada da reta oposta, perdendo muitas posições e sendo removido da briga. Comemorei como se fosse um gol! Já Alonso fez uma corrida irreconhecível, na qual pode ter havido um ou mais dedos de Ron Dennis... Pouco pôde fazer. 

Era necessário que Kimi vencesse, mas o piloto que ocupava a primeira posição era o Felipe Massa, que mais tarde se achou no direito de falar que Kimi só venceu porque ele deixou. Mas ali não havia o que fazer, Massa já estava fora da briga desde Monza e a inversão de posições beneficiava a Ferrari, que ganharia ambos os títulos, de pilotos e de construtores, devido à punição imposta à McLaren pelo caso Spygate. Enfim, nada disso importa mais. Kimi é campeão do mundo. 

Aquele dia foi muito legal, porém triste na mesma medida. Na minha casa, só havia restado eu de fã da F1. Meu pai falecera quatro anos antes. Não deu para compartilhar minha alegria com ninguém, embora eu tenha conseguido saboreá-la. 

À improbabilidade dos títulos de James Hunt e Kimi Räikkönen se somava a improbabilidade de um momento de alegria para mim naqueles tempos. Pois o que é improvável, não é impossível! 

Um beijo bem grande, 
Levi 

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Quando eu digo que o ídolo é importante, estou certa. Seu texto comprova isto Levi, em um momento difícil da sua vida, torcer para Kimi foi algo que pelo menos te trouxe bons momentos.

Obrigada demais pelo seu texto, por ter sido tão querido em aceitar participar da SKR 2007. Seu texto ficou emocionante!!! 

Beijinhos, Ludy

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