Indicação do Octeto: "A difícil missão de correr atrás do prejuízo"
A difícil missão de correr atrás do prejuízo
Fórmula 1 mostra como a falta de inovação é pensamento limitado de gestores é capaz
de derrubar a mais tradicional das empresas. Relevância para consumidor deve ser
primordial
Bruno Mello | 15/05/2017
bruno@mundodomarketing.com.br
As transformações ocorridas nos últimos tempos foram tão rápidas que nem a Fórmula 1 foi
capaz de acompanhar, literalmente. Assim como muitas empresas ao redor do globo, a
categoria máxima do esporte a motor no mundo foi atropelada, perdeu importância,
admiradores, audiência e dinheiro. Justo ela, que sempre foi precursora de diversas inovações e
se manteve no auge por décadas, mas que nos últimos anos de intensa mudança no
comportamento das pessoas foi incapaz de se adaptar e agora busca se reinventar.
Assim como em muitos ambientes corporativos, a Fórmula 1, que é uma empresa, não desceu
de seu pedestal de líder, ficou deitada em berço esplendido ao mesmo tempo em que a
tecnologia encurtou ainda mais as distâncias do mundo, deu poder às pessoas e viu
concorrências não tradicionais ganharem espaço. E, num caso clássico de erro de
posicionamento, voltou-se ao luxo, enquanto a distância desta marca com seus fãs e com a
realidade até em termos de tecnologia só fez aumentar.
A arrogância e prepotência de seus dirigentes – seguida de miopia – colocou a categoria em um
mundo à parte. Seu último grande acerto remota ainda dos anos 2000, quando se expandiu
pelo globo, mas ao mesmo tempo fechou-se em uma bolha autoritária e autocrática. Qualquer
semelhança com o mundo corporativo não é mera consciência, pois, lembre-se, a Fórmula 1 é
uma empresa – até o ano passado dirigida por um dos homens mais ricos do mundo e,
contrassenso do contrassenso, o responsável por todo o seu sucesso e pelo seu declínio: Bernie
Ecclestone.
Ao se fechar num mundo inacessível a muitos mortais, ela deixou de aprender com o próprio
Luxo, que nos anos 2000 viu alguns casos de sucesso, como Armani ao criar submarcas e se
aproximar das pessoas que tinham o aspiracional da marca mãe. Parece incrível, mas só no ano
passado a Fórmula 1 aderiu às redes sociais de forma oficial, ainda assim, de forma distante.
Neste ano, após ser vendida por Ecclestone para a Liberty Media, mesmo grupo que possui
participação em empresas de comunicação, mídia e entretenimento como Viacom e Warner, a
categoria está dando alguns cavalos de pau.
Assim como muitas organizações deveriam fazer, a nova Fórmula 1 deixou de perceber que ela
era muito mais do que uma competição de pilotos, equipes e fábricas, mas sim um grande
entretenimento. E, sobretudo, quem paga a conta são as pessoas que vão aos autódromos,
veem as corridas pela televisão e compram os produtos e subprodutos deste circo. A categoria
está fazendo o que muitas empresas ainda relutam: colocando o seu consumidor do centro de
tudo.
Mesmo percebendo-se como um entretenimento, o campeonato não fica em segundo plano,
pelo contrário. O regulamento deste ano criou carros ainda mais potentes e difíceis de serem
guiados, dando mais oportunidades para que mais de uma equipe e melhores pilotos possam
lutar pela vitória e fazendo da corrida de fato uma atração. Ainda assim, há uma certa
previsibilidade, pois, no final, por melhor que a corrida seja – e elas tem sido ótimas como há
muito tempo não se via, com duas equipes diferentes lutando pelo título – o enredo se repete.
Por isso, ao colocar as pessoas no centro e se assumindo como uma diversão de domingo, é
preciso se humanizar, se aproximar das pessoas e criar sempre uma nova estória para engajar e
emocionar.
O exemplo mais real de tudo isso aconteceu neste domingo, no Grande Prêmio da Espanha.
Mesmo tendo vencido a corrida, o personagem principal não foi o inglês Lewis Hamilton, mas
sim um menino francês de seis anos chamado Thomas. Fanático pela Ferrari, ele foi às lágrimas
logo no começo da competição quando viu o piloto Kimi Raikkonen ficar de fora da disputa ao se envolver em uma batida. Algumas voltas depois, o sorriso voltou a ver o outro ferrarista,
Sebastian Vettel, levar a melhor numa disputa com Hamilton. Tudo capturado pela TV.
Cenas assim já vimos aos montes na velha Fórmula 1. Porém, depois, do meio para o final da
transmissão, aparece um replay das emoções do garoto na arquibancada e logo ele aparece no
box da Ferrari recebendo um abraço e um boné de Kimi Raikkonen. No pódio, ele também
acompanhou tudo de perto e vibrou com o segundo lugar de Vettel. A corrida? Teve disputas e
batidas que poderiam render ótimas imagens para ilustrar o fim de semana, mas o que ficará
marcado são as cenas de Thomas e o mundo do automobilismo inteiro comentando sobre a
nova Fórmula 1: mais aberta, mais participativa, mais humana e mais próxima.
Fica uma bela lição. Se até a Fórmula 1 que já foi sinônimo de inovação e estar sempre na frente
ficou para trás e teve enorme dificuldades para voltar a ter importância na vida das pessoas – e
esta corrida está apenas no começo –, as empresas também podem se superar. A missão de
correr atrás do prejuízo é enorme, mas precisa ser corrida à 300 km/h por hora, literalmente.
Fonte: www.mundodomarketing.com.br
Primeiramente, obrigada ao amigo e leitor Eric Oliveira por ter me indicado este texto excelente. E em segundo lugar, o que foi que autor falou que há tempos eu não venho repetindo aqui no Octeto?
A F1 precisava se reinventar, se aproximar do fãs, entrar em contato com quem faz a categoria rodar e lucrar, nós. Por isto o parágrafo abaixo é perfeito.
Assim como muitas organizações deveriam fazer, a nova Fórmula 1 deixou de perceber que ela
era muito mais do que uma competição de pilotos, equipes e fábricas, mas sim um grande
entretenimento. E, sobretudo, quem paga a conta são as pessoas que vão aos autódromos,
veem as corridas pela televisão e compram os produtos e subprodutos deste circo. A categoria
está fazendo o que muitas empresas ainda relutam: colocando o seu consumidor do centro de
tudo.
Eu tenho falado sobre isto incansavelmente por aqui (as meninas também) e o fato de tanta gente dar foco para o acontecido com o pequeno Thomas só comprova a teoria, a F1 precisa ser mais emotiva, humana e próxima de seus fãs e a tecnologia é uma forma perfeita para isto.
Em todos os esportes a gente vê cenas como a de Thomas. É claro que isto faz parte de uma jogada de marketing também (por isto a Liberty Media e a Ferrari decidiram pela ação), mas é isto que vai mover o esporte fora das pistas, porque vai aproximá-lo de seus torcedores. Todo mundo sairá ganhando. Não apenas um lado, como era na época de Bernie.
Não estou aqui tirando o mérito do que Ecclestone fez pela F1, de jeito algum, ele levantou este império, mas ao mesmo tempo simplesmente não fez questão alguma de melhorá-lo para quem importa, os torcedores comuns. Ecclestone só pensa em dinheiro e nós, que fazemos a F1 rodar, lucrar, não significávamos nada para ele, porque nosso dinheiro era nada perto dos bilhões que ele ganhava com os donos de Rolex.
Para encerrar, a verdade é que a Liberty Media veio para finalmente incluir a F1 neste mundo tecnológico e em constante mutação, e especialmente, para nos tratar como merecemos. E os resultados, ainda que não tão rápidos, já são visíveis aos olhos.
Beijinhos, Ludy
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bjs, Ludy