Só tem gangster!
Ex-médico-chefe duvida da
adoção de cockpit fechado na F1 e diz que “só tem gângster” na FIA
Pupilo
do lendário médico Sid Watkins, Gary Hartstein também foi médico-chefe da F1 e
no último ano se notabilizou por fazer críticas aos procedimentos médicos
adotados pela FIA. Hartstein vem sido provavelmente o maior crítico da
organização máxima do automobilismo mundial no que diz respeito às
investigações e conclusões sobre o acidente fatal de Jules Bianchi no GP do
Japão de 2014.
Ao
site espanhol 'laf1.es', Hartstein deu uma extensa entrevista onde falou de
diversos assuntos envolvendo o acidente de Bianchi, onde não viu problemas no
atendimento imediato, mas nos contornos e transporte ao hospital. O médico
disse que Watkins, morto em 2012, ficaria possesso se visse o que ocorreu no
caso. E disse que qualquer um entendido de neurologia riria ao ouvir a
afirmação da FIA de que o transporte de Bianchi ao hospital, que durou 40 minutos,
não teve desdobramentos que evitaria se o trajeto tivesse sido feito em 20
minutos.
Falou,
também, sobre a intromissão da alta cúpula da FIA em sua vida profissional fora
do esporte, com a influência de Gérard Saillant e Jean Todt de sua demissão do
hospital onde trabalhava. Os chamou de "gângsters" e disse que o
presidente da FIA é "vingativo".
(Foto: Shell/Getty Images))
(Foto: Shell/Getty Images)
Sobre o
que Sid Watkins faria se tivesse visto o que aconteceu em Suzuka:
"Estaria
muito nervoso, dando golpes nas paredes e se queixando de como foi infeliz
nisso tudo. Estou feliz que ele não tenha visto. Se tivesse, estaria
completamente irritado. Completamente."
Sobre
os criticados procedimentos da equipe médica após a batida:
"Para
ser honesto, não tenho muitos problemas com os procedimentos que se aplicaram
depois de Adrian Sutil sair da pista. Não tenho problemas com a atuação dos
comissários e da direção de prova. A bandeira amarela dobrada significa que os
pilotos precisam estar preparados para diminuir, e há momentos que não há
solução senão colocar a grua na pista. As pessoas têm criticado e perguntado
por quê há culpa de Jules. O fato é que Jules era quem acelerava e estava
rápido demais."
Sobre
os protocolos que se ativam em um caso como este:
"Creio
que desde esse ponto de vista, tudo funcionou bem. Teve um pouco de confusão,
mas saíram com o carro de segurança e o médico, e logo o médico tomou a frente
para se dirigir à zona do acidente. Não tenho dúvidas que o trato aplicado no local
foi bom. Conheço o doutor do carro médico, é excelente, estou certo de que o
trato foi exatamente como dita o
protocolo."
Sobre
a polêmica pela forma como Bianchi foi retirado do circuito de Suzuka (de
ambulância, porque o helicóptero não tinha permissão para voar por conta de um
tufão que se aproximava):
"Sim,
as decisões sobre sua saída para o hospital foram problemáticas. Muito.
Revisadas as normas da FIA, pode ver quando as condições meteorológicas impedem
que o helicóptero possa levantar voo, a única forma de que a corrida continue é
que o hospital mais próximo esteja a X minutos, creio que 20 ou 30 (são 20).
Pode-se calcular de duas formas: ou cronometrando o tempo do trajeto da
ambulância ou calculando matematicamente.
De
acordo com essa norma, assim que os pilotos do helicóptero reportarem que não podem
voar, o delegado médico deveria recomendar que a direção da prova parasse a
prova, ao menos acionasse a bandeira vermelha de forma provisória até que as
condições meteorológicas melhorassem. A evacuação dele demorou 40 minutos. Isso
é muito. Jules sofreu uma lesão grave, estava muito ferido e uma retirada de 40
minutos é demais para uma lesão cerebral grave."
Sobre
a afirmação da FIA de que o tempo de transporte não afetou Jules:
"Essa
afirmação é chocante. Absolutamente chocante. Escrevi em meu blog no momento:
ninguém que entende de lesões cerebrais jamais disse algo semelhante. 40
minutos é demais para uma lesão cerebral. Qualquer neurocirurgião riria se lhe
perguntassem se são diferentes as consequências de uma retirada de 40 minutos e
outra de 20", exclamou.
Sobre
o que faria diferente se fosse o médico-chefe:
"Quando
eu era delegado médico, uma vez tivemos de parar uma corrida por algumas horas.
Bernie Ecclestone me pressionava para que voltássemos, mas quando aceita uma
responsabilidade assim, tem que seguir o regulamento. As normas servem de algo
e estão muito bem feitas. Teria falado com Charlie Whiting e dito que
precisávamos parar a corrida por não poder cumprir com o limite de tempo",
falou.
Sobre
se o sistema de bandeiras coloridas está obsoleto:
"Creio
que é muito importante fazer que se cumpra. O sistema de bandeiras é
extraordinário. Isso não significa que não pode melhorar, mas se se faz cumprir
bem, é extraordinário. Este ano, vemos problemas na F3, onde pilotos podem
enlouquecer. Recordo uma vez na GP3, deve ter uns dois anos, em que falei com
pilotos e disse que não ia permitir carros médicos indo à pista em bandeira
amarela por causa de como eles estava guiando nessas condições. Não queria um
médico machucado.
"Os
pilotos são pilotos e fazem coisas de pilotos, e também quero saber quanto
precisam aliviar em bandeira amarela para não serem penalizados."
O
acidente de Felipe Massa foi o momento mais delicado da passagem de Hartstein
pela F1 (Foto: Shell/Getty Images))
O
acidente de Felipe Massa foi o momento mais delicado da passagem de Hartstein
pela F1 (Foto: Shell/Getty Images)
Sobre a lisura do grupo montado pela FIA que
faz a investigação do acidente:
"É
uma boa pergunta. A credibilidade é menos sólida se os membros da investigação
tiverem um conflito de interesse. E aqui, metade dos membros pelo menos devem
suas carreiras no automobilismo ao Todt. Isso não significa automaticamente que
não esteja certo o que eles dizem, mas não deixa de ser algo que cause dúvidas
sobre as conclusões. O segundo e mais importante, talvez tão importante como, é
que nunca publicaram o informe completo. Apenas publicaram um resumo de algumas
páginas, mas não dizia nada interessante."
Sobre
mudanças que podem ser esperadas depois do Caso Bianchi:
"É
interessante. Creio que Charlie está tentando extrair os carros dos circuitos
sem precisar da grua. Acredito que está pensando nisso, mas não sei qual a
solução. Queria poder fazer como nos velhos tempos, quando não precisava
retirar todos os carros e os deixavam separados numa parte que não impunha
perigo para todos. Não há dúvidas que para Jules teria sido menos perigoso o
carro de Sutil que a grua. De novo, não tenho queixa quanto ao procedimento que
se ativou depois do acidente. Agora mesmo acredito que o grande perigo é quando
os carros deixam o solo, como Mark Webber em Valência 2012. É um dos episódios
mais perigosos."
Sobre
a possibilidade dos cockpits fechados:
"Isso
não vai ocorrer. O risco não é zero. Se um carro capotar e cair com o cockpit
para baixo, não estou muito seguro de como o piloto poderia ser resgatado. Fora
isso, já não seriam monopostos abertos, e a F1 sempre foi uma categoria de
carros abertos. Sei que Adrian Newey fez a Red Bull futurista com a cúpula para
um videogame e seria bonito e com uma mecânica espetacular, mas não estou certo
de que no futuro ocorra algo pelo estilo."
Sobre
a demissão do hospital onde trabalhava
por conta dos artigos sobre o acidente de Michael Schumacher após uma visita
Gerard Saillant:
"Um
dos responsáveis veio ao hospital um dia e me disse que recebeu uma visita de
um amigo meu. Perguntei se era verdade. Disse que ele se chamava Saillant e
tinha chegado com um dossiê e perguntado
o que podíamos fazer para que eu parasse de escrever. Meu responsável disse a Saillant que não era
a solução pelos problemas com o que eu escrevia. No entanto, no dossiê que
carrego - algum dia publicarei online, apesar de ser grande demais -, é uma
compilação de meus artigos. Enfim, não me surpreendeu, mas chocou que alguém
com tanta responsabilidade tenha feito algo assim. Só criminosos fazem coisas
como essas. Atuam como gângsters. Essa é a palavra. Gângsters."
Sobre
o motivo da FIA querer atrapalhar sua carreira profissional quando não está
vinculado à federação:
"Acredito
que pensavam que eu podia causar algum dano, que isso podia ter consequências.
Que tiveram medo e me odeiam até a morte. Levaram tudo a um nível pessoal. Todt
é uma pessoa vingativa. Se o causa problemas, ele vai te foder. Talvez não
amanhã, talvez dentro de uns anos, mas te foderá. Quiseram me machucar a um
nível pessoal. Acho que têm medo de mim."
Sobre
o processo em tese restrito de seleção da FIA para médicos:
"A
verdade é que foram duas mudanças. Quando Sid se aposentou e quando me
substituíram. Quando Sid ia se aposentar, escrevi uma carta grande a Max
Mosley. 'Querido presidente, Sid vai se aposentar e gostaria que me
considerasse para o cargo, etc.' Sabia que outros pediram, mas me escolheram.
Max era sério e entendia a importância do trabalho da medicina na F1. Ele
estava lá quando Ayrton e Roland tiveram seus acidentes. Max trabalhou com Sid,
sabia o que acontecera.
A
segunda foi minha, então até agora não houve um processo de seleção absoluto.
Saillant, (Jean-Charles) Piette e Todt são todos amigos. Que melhor presente
dar a um amigo do que um dos melhores trabalhos do mundo? Não tenho problema
com isso, mas sempre disse que é estranho. É provável que no mundo existam 30
ou 40 pessoas que poderiam fazer esse trabalho, Piette não era o único. O que me
enervou foi que escolheram alguém que não estava preparado para um trabalho tão
sério."
(fonte: Grande Prêmio)
UAU!!! Só digo isso!
Bjusss, Tati
Comentários
bjs, Ludy