Octeto Entrevista: Evelyn Guimarães
Oi gente! Última quarta-feira de agosto e como prometido, estou aqui novamente para mais um Octeto Entrevista. E neste mês temos uma convidada especial.
Quem acompanha automobilismo diariamente como a gente, com certeza conhece Evelyn Guimarães, jornalista e editora do site Grande Prêmio.
Eu a convidei porque gostaria de compartilhar mais uma vez com vocês a rotina de uma jornalista que trabalha com automobilismo. É sempre bacana vermos as mulheres construindo sua história neste meio tão dominado pelo homens. #girlpower
Então curtam o papo muito bacana que tive com a Evelyn e deixem seus comentários!
Nossa entrevista do mês |
1. Evelyn, fale um pouquinho sobre você, um perfil básico.
Bom, sou curitibana, aquariana... Brincadeirinha... Sou jornalista e editora do site Grande Prêmio, especializado em esportes a motor. Nem sempre fiz isso para viver, já trabalhei em rádio e TV aqui em Curitiba, mas também já pensei em ser veterinária, advogada, historiadora e diplomata. E acabei mesmo no jornalismo, porque sempre gostei de escrever e contar histórias... Em um lado mais pessoal, sou uma pessoa calma, adoro animais, comidinhas e docinhos. Sou uma pessoa cautelosamente otimista sobre tudo e apaixonada pelo que faço.
2. Você trabalha como jornalista especializada em automobilismo. Como foi a sua trajetória? Você tem um ídolo ou uma referência na área?
Aconteceu meio por acaso, foi uma aposta, depois dos pequenos trabalhos que fiz aqui e ali em Curitiba. Eu já conhecia o Flavio Gomes, o dono do site Grande Prêmio, e quando me mudei para São Paulo, em 2007, resolvi tentar a sorte. Fiz um teste, depois um treinamento com o Victor Martins, o diretor-executivo do site, e entrei, mas nunca achei que fosse durar tanto. Adoro o meu trabalho, a adrenalina do hard news, a apuração nas informações, os personagens que vão surgindo com cada nova história, a ‘disputa’ pelo espaço com a concorrência e tudo mais. Adoro o esporte a motor desde sempre, então fui incrivelmente sortuda, ainda mais porque também trabalho com o jornalista que, para mim, sempre foi uma grande referência, que é o Gomes. Sou uma apaixonada por tudo que a internet proporciona também. É uma maneira ainda nova de jornalismo, e sempre gostei de ideias inovadoras, do diferente, então acho que me encontrei nesse meio.
3. Ser mulher e cobrir esportes que são da esfera masculina é sempre complicado. Por trabalhar com automobilismo, em algum momento da sua carreira você já sentiu algum tipo de preconceito?
Ainda há barreiras neste sentido, sim. Sempre tem aquele que torce o nariz, que ignora a sua presença ou solta pequenos comentários, mas nunca me deixei abalar por isso. Sou profissional e lido com essas situações dessa maneira. Nem sempre é fácil, mas tento fazer o meu trabalho de maneira honesta e profissional. Felizmente, trabalho em uma empresa em que nunca senti qualquer diferença no tratamento com os chefes e entre os colegas. Somos todos tratados com igualdade, todos têm as mesmas chances e temos liberdade para tudo.
4. Qual foi o momento mais embaraçoso e aquele inesquecível que você poderia destacar nestes anos em que trabalha como jornalista de automobilismo?
Mais embaraçoso? Olha, esse episódio entrou para a história das coberturas do site. Bom, a cobertura ‘in loco’ é a mais prazerosa de todas, e nós sempre temos por hábito pensar pautas diferentes, tentar novas visões do evento e etc. E esse episódio aconteceu no primeiro ano da Indy no Anhembi. Pouco antes da largada, nós estávamos voltando dos boxes – do Pavilhão do Anhembi – para a sala de imprensa. O nós aí: Victor Martins, o chefe, o João Paulo Borgonove, o Borgo, e eu. Mas eu ainda não estava satisfeita, porque não tive acesso à área dos pits, para onde os carros estavam sendo levados antes da prova.
Eu estava muito ansiosa para entrar naquela área, sempre tem o que apurar, o que descobrir e achei que seria legal dar um pulinho ali antes do início da prova. Só que não era uma área permitida a jornalistas, evidentemente, mas eu tentei dar aquela driblada nos fiscais, tentei me escondeu atrás de um carro de serviço, mas fui pega... E levei uma bronca do fiscal, na tentativa de me fazer de transparência ali... E tudo bem na frente do chefe. É, não foi fácil... Ainda é uma história recorrente.
Agora quanto ao momento inesquecível... Ah, eu tenho muitos nesses anos de cobertura do esporte e guardo todos com o mesmo carinho. A primeira entrevista com Michael Schumacher, em um evento de kart que o Felipe Massa costumava fazer em Santa Catarina. A primeira vez que fui a Interlagos cobrir a F1 com credencial de imprensa. O primeiro GP fora do Brasil, que foi em Spa-Francorchamps. A primeira vez que pisei em Indianápolis e o fato de ter acompanhando tudo desde a formação do grid até a largada das 500 Milhas. Todos momentos inesquecíveis mesmo.
5. A paixão por corridas veio como herança de família ou foi algo que você aprendeu a curtir sozinha?
Posso dizer que é uma herança de família, sim. O meu pai sempre gostou muito de automobilismo, motociclismo, mas também de outros esportes, como futebol, vôlei, tênis. E sempre gostou muito de ler, assim como a minha mãe, então foi meio que natural. Eles passaram esses hábitos para mim. Mas também sempre fui muito curiosa, queria saber mais, como, onde, por que... Então, acho que já era um pouco jornalista sem saber.
6. Como você vê a participação feminina nas pistas? Acredita que a F-1, por exemplo, algum dia voltará a aceitar uma mulher em um de seus carros?
Eu acho que ainda há poucas garotas no esporte. Acredito que o problema maior é a falta de incentivo e investimento, de preparação de base, de fazer as meninas acreditarem que podem, sim, enfrentar os meninos de igual para igual. Também pesa aí o fato de que é um esporte caro, elitista, e isso limita muito o aparecimento de novos talentos, o que vale para os meninos também. Eu acredito que a F1 está aberta a isso, sim. Ainda não é tão ‘fácil’ quanto nos EUA, com a Indy e a Nascar, por exemplo, mas é uma situação que vai acontecer mais ou cedo ou mais tarde, mas é preciso formar pilotas competitivas.
7. Vamos para o assunto principal do nosso papo aqui, e já vou começar com uma pergunta “fácil”. Quem foi o melhor piloto da história para você? E a melhor equipe?
Eu acho que é complicado apontar o melhor de todos os tempos, porque esbarramos em épocas diferentes, regulamentos distintos, carros, o momento vivido por cada um em determinado campeonato. Eu diria que o maior da história é Michael Schumacher, por conta dos títulos, da história que construiu com a Ferrari. No auge da carreira, era praticamente imbatível, e eu acompanhei bem a carreira dele. Mas nomes como Ayrton Senna, Alain Prost, Juan Manuel Fangio também precisam ser levados em consideração nessa lista aí.
Creio que a melhor equipe tenha sido a McLaren de 1988. Além de um carro quase perfeito, um motor afiado da Honda, a equipe ainda tinha dois dos maiores pilotos de todos os tempos: Ayrton Senna e Alain Prost. E que viveram, em igualdade de condições, a maior rivalidade da história da F1.
8. E atualmente, quem é o melhor piloto do grid na categoria de Bernie Ecclestone?
Essa é difícil, hein? Gosto muito do estilo do Lewis Hamilton. Acho que a velocidade e o arrojo dele encantam demais. Mas creio que a F1 não tem um único melhor piloto atualmente. Eu diria que tem três caras que se completam e são fora de série, geniais de muitas formas. Então, o ideal seria uma mistura de Hamilton, Sebastian Vettel e Fernando Alonso.
9. Sobre o Mundial 2015 de F-1, se você tivesse que apostar suas fichas em um dos pilotos da Mercedes para o título, qual deles escolheria: Lewis ou Nico?
Lewis Hamilton.
10. Qual categoria automobilística mais te impressiona quando você vai fazer uma cobertura in loco? E como torcedora?
A mais impressionante é a F1, pela história e pela grande importância que possui para o automobilismo mundial. Além disso, ainda há todo o investimento das equipes, do campeonato todo em si, são 20 etapas, além da quantidade de jornalistas envolvidos. Como torcedora, a categoria do automobilismo é a Indy. Agora do esporte a motor em geral, eu diria que a MotoGP é a categoria mais empolgante, tanto para quem cobre quanto para quem vai ao autódromo assistir.
11. Gostaria de saber qual a sua opinião sobre os torcedores brasileiros, como nós aqui no Octeto Racing Team, que temos preferências pelos pilotos estrangeiros? Você acredita que o automobilismo é um esporte sem esta amarra da nacionalidade?
Eu acho que as pessoas são livres e têm todo o direito de torcer para quem quiser. Acho um pensamento um tanto limitado ter de “torcer” para um brasileiro sempre, ou seja lá de que compatriota. Não faz sentido algum. É um esporte mundial, tem gente de todas as partes, talentos de todas as partes.
12. Como é a sua rotina de trabalho no Grande Prêmio em um dia de transmissão da F-1? Seja in loco ou daqui do Brasil.
A cobertura ‘in loco’, claro, é bem mais intensa. A gente começa muito cedo, muitas horas antes da largada, e encerra tarde, muitas horas depois da bandeirada. No caso da F1, quando você está na pista, há uma série de entrevistas programadas pelas próprias equipes, então eu procuro, na medida do possível, ir a todas, ouvir os protagonistas, questioná-los e apurar as informações. Também, sempre temos pautas extras a cumprir e sempre existe aquela história que não é tão óbvia e que pode render um grande material. Por isso, o importante é estar atento a tudo, observar e questionar. E tudo isso procuramos levar ao leitor por meio dos relatos das corridas e treinos, textos especiais, análises e demais notas, além da transmissão ao vivo.
Quando estamos longe, também começamos mais cedo e terminamos bem mais tarde, mas a seriedade e a busca pela informação são as mesmas. Então, ficamos sempre atentos às nossas fontes, às redes sociais, ao noticiário internacional e aos jornalistas que também fazem a cobertura ‘in loco’. Evidentemente, tudo precisa ser devidamente checado e avaliando antes de ir ao ar. Também procuramos ter senso crítico sobre tudo que acontece.
13. Se pudesse dar um conselho a alguém que está querendo investir na carreira de jornalista especializado em automobilismo aqui no Brasil, o que você falaria?
Eu diria que é uma área bacana para trabalhar, prazerosa e que pode levar aos lugares mais legais do mundo, mas também é extremamente exigente. Os plantões são longos, o trabalho é intenso e acaba sendo sempre nos finais de semana, então tudo isso tem de colocar na balança. Também é preciso muita dedicação, esforço e tempo. Procurar se aperfeiçoar, conhecer a história do esporte, de seus personagens, ter um bom português e aprender outras línguas. Logicamente, a língua ‘oficial’ da F1 é o inglês — não só da F1 —, mas nunca é demais saber outros idiomas. Quanto mais, melhor. Na verdade, o segredo é se preparar bem, checar sempre as informações, ter isenção, ter um olhar crítico e fazer a diferencial. É uma área concorrida? É, sim. Mas a preparação, conhecimento do assunto, um bom texto sempre são elementos que ajudam a conquistar espaço neste meio.
14. Se você fosse chefe de uma equipe de Fórmula 1 e pudesse contratar dois pilotos que fazem parte do Octeto Racing Team (Kimi Räikkönen, Fernando Alonso, Sebastian Vettel, Jenson Button, Nico Rosberg, Jarno Trulli, Jacques Villeneuve, Juan Pablo Montoya ou David Coulthard), qual seria a sua dupla e por quê?
Outra pergunta difícil... Eu gostaria de ter na minha equipe Fernando Alonso e Sebastian Vettel. Acho que os dois se completam, são pilotos inteligentes, de tocada limpa e segura, conhecem bem seus carros, são velozes e constantes. Não sei se o relacionamento seria dos melhores. Mas acredito que sim pela maturidade de ambos neste momento da carreira.
15. Para encerrar, aqui no Blog do Octeto, somos apaixonadas pelo automobilismo e dedicamos um pouco de nosso tempo para um assunto predominantemente do público masculino. Adoramos ir às corridas e discutir automobilismo. Você acha que ao longo dos anos (principalmente com a internet), o número de garotas que curte automobilismo cresceu? Como você vê a presença das mulheres como blogueiras, torcedoras que vão aos autódromos porque amam corridas (e não por conta de influência masculina próxima) e que participam de fóruns/ grupos na internet discutindo automobilismo?
Acho fantástico! E acho que cresceu muito sim e a internet é uma das razões. E temos de ter mais e mais meninas no esporte, escrevendo sobre e fazendo parte mesmo, não tem essa de esporte masculino. Eu frequentei muitas vezes as arquibancadas em Interlagos na F1 e, a cada ano, havia mais meninas. No paddock da F1 também há cada vez mais mulheres, não só jornalistas, mas engenheiras, mecânicas, assessoras e chefes de equipes. O mundo felizmente está mudando, e nós temos de aproveitar. No Grande Prêmio, por exemplo, tenho mais duas colegas, a Juliana Tesser, setorista de MotoGP, e a Nathália de Vivo, que também é nossa repórter. Quando entrei, era só eu e hoje já somos três!
E esta foi a entrevista que fiz com a Evelyn para vocês. Espero de verdade que tenham curtido.
Quero aproveitar a oportunidade e novamente te agradecer, Evelyn, por ter dedicado um pouquinho do seu tempo (que eu sei é mega corrido) para conversar comigo e os leitores do Octeto. Adorei suas histórias!!! Muito obrigada mesmo!
Bom gente, mês que vem estaremos de volta. E se quiserem ler as entrevistas que já fiz com outros jornalistas que conhecemos, fiquem à vontade. Aqui vocês têm Rodrigo Mattar, Alessandra Alves e Rafael Lopes.
Beijinhos, Ludy
Comentários
BEAJ
GISA
Obrigadaaaaa!!! Amei a entrevista! Gracias por separar um tempinho participar do nosso Octeto!!!
E Parabéns pelo seu trabalho!!! Sempre!!!!
Super bjusssssss, Tati