Dica de Leitura: Entrevista do Luciano Burti no Tazio

Olá gente! Bom dia! Começo as postagens de hoje com uma dica de leitura para vocês. Uma entrevista feita pelo Tazio com o ex-piloto de F1, hoje correndo pela Stock Car e trabalhando como comentarista da TV Globo, Luciano Burti.

É uma entrevista muito boa, em especial sobre os momentos em que ele fala sobre como começou a se interessar em ser comentarista, o fato de Reginaldo Leme ter ficado meio sem jeito no começo com a presença dele, sobre Rubinho, Schumacher, sua carreira como piloto de F1, e muito mais.

Só que eu não vou postar a entrevista toda aqui. Ela é grande. Separei apenas as partes que que comentar. Quem quiser ler tudo, basta clicar neste link. Eu indico.

Sobre Kimi e Felipe...

LF – Ao sofrer o acidente, Massa interrompeu sua melhor fase da carreira. Ficou um tempo parado e voltou à Ferrari com um companheiro novo, que entrou no time com uma atitude centralizadora. Ter voltado a um ambiente no qual não recebeu o suporte necessário pode ser o motivo de ele passar por má fase?

Com certeza. Muita gente fala do acidente, mas não foi. O Felipe veio do campeonato de 2008, onde a dupla era ele e o [Kimi] Raikkonen. Só que o queridinho da equipe era o Felipe. Ele era o cara que os mecânicos gostavam. O Felipe é um cara politicamente correto, bacana, fala italiano e tal. O Raikkonen mal dá “bom dia”. É um cara gente boa, mas para uma equipe italiana… Em uma equipe inglesa está ok, mas não tem nada a ver com um time italiano. O cara não fala “bom dia”. Não é por falta de educação, ele simplesmente é assim. Nas únicas vezes em que o Raikkonen veio falar comigo, ele estava bêbado em festa. Eu também estava, não é para falar da fama de bêbado dele, estávamos em festa! [risos] O cara é divertido, mas, na corrida seguinte, passa reto e não fala “oi”. Para uma equipe italiana, isso não funciona. O Felipe era o cara querido da equipe e do ano de 2008, em que quase foi campeão e a Ferrari tinha o melhor carro. Começou 2009 com um carro não tão bom, mas ainda era o nº 1 do time. Aí veio a tal da mola, o cara ficou um ano fora, etc. e tal. Quando volta, estava lá o Alonso. Um cara bom para cacete, e na minha opinião e de boa parte do pessoal com quem converso, o melhor piloto do grid. E ele é forte do ponto de vista político, por centralizar mesmo as coisas, puxar tudo para ele mesmo e quem estiver ao lado que se dane. Veja o que aconteceu com o Nelsinho, o Romain Grosjean. Ah, o Grosjean aprendeu a pilotar agora? Aprendeu nada. O cara estava numa equipe na qual não tinha atenção nenhuma.

Primeiro, que bom que pelo menos o Burti teve a educação de não focar os comentários dele sobre o fato de Kimi beber e debochar disto, ou ser estúpido como o Webber fez uma vez, em 2009, depois do GP da Inglaterra, em plena coletiva de imprensa. (Neste link para quem não sabe do que estou falando). Segundo, cada vez que leio algo assim peço com todas as minhas forças que Kimi jamais pise na Ferrari novamente. Exatamente porque ele não tem o que os italianos querem, e a saída de Jean Todt (e consequentemente a entrada daquele Stefano Domenicali) só fez piorar a situação "ele não dá bom dia" que Burti mencionou. Cada equipe, sua filosofia. Na McLaren deu certo, na Lotus, pelos menos parece que está também, mas na Ferrari não deu. Só que isto me chateia e será assim para sempre, porque o mínimo que eles poderiam ter feito era ter respeitado o piloto que mesmo eles não gostando, deu a ele três títulos mundiais. Demitiram o Kimi por causa disto, porque ele não se enquadrava no perfil de piloto vibrante que são, para citar os últimos pilotos da Scuderia, Schumacher, Barrichello, Felipe e Alonso. Não o demitiram por qualidade técnica, o demitiram por personalidade. E isto, eu não consigo aceitar. Direito da equipe? Claro, cada empregador faz o que quiser não é mesmo? Direito meu de não aceitar? Definitivamente! Sobre Felipe, não comento, embora tenha muito o que falar. Mas prometi a mim mesma que o dia que chegar a hora de falar, vou falar, e não é agora.

Sobre como se preparou para ser comentarista...

BF – Se preparou como?
Fiz umas aulas de fonoaudiólogo, me informei de algumas coisas que tinha de fazer, fui estudar… Vocês jornalistas são formados, entendem de comunicação, seja escrita, seja o que for. Comunicação tem início, meio e fim, eu não sabia porra nenhuma. Então comecei a me informar, assistir a jogos de basquete para ver o narrador e o comentarista falando coisas que me atraíssem, como passar a informação para um cara que não entenda do esporte. Comecei a ler muito mais para entender um pouco de texto. Não entendo o que vocês entendem, mas ganhei conhecimento e, no fim de 2004, eles me ligaram novamente: “Você não quer fazer o teste?”. Então fiz três corridas como convidado e, em seguida, fui contratado para a temporada seguinte. Aí você vê algumas coisas interessantes. Não me dou mérito em relação a isso, mas na Olimpíada seguinte, a de 2008, a Globo passou a ter um ex-atleta em todos os esportes. Foi muito por conta disso, porque eles perceberam o quanto é importante ter alguém com o olho de ter feito aquilo antes. Já tinha o Casagrande e o Falcão no futebol, mas futebol é futebol, é outra coisa, outro mundo.

Obrigada Burti. Embora a luta pela aprovação da obrigatoriedade do Diploma de Jornalismo ainda esteja correndo no Congresso (como vocês podem ler aqui) é bom ver que algumas pessoas conseguem ver que não é só chegar lá na frente da TV ou sentar à frente de um computador e se achar pronto para ser jornalista. Fiz 4 anos de faculdade, estudei muito, fiz sacrifícios financeiros (como qualquer estudante), morei longe da família, fui atrás de um sonho. Semana que vem farei 10 anos de formada. Não estou trabalhando no meio porque a gente faz escolhas na vida e estas escolhas precisam nos ajudar a pagar nossas contas, mas toda vez que me perguntam minha profissão, eu sempre respondo, sou jornalista. E sempre serei. E eu estudei para isto, apesar de certos políticos acharem que para ser jornalista, não é preciso estudar.

Sobre o brasileiro e sua forma de torcer... 

LS – Isso chegou a prejudicar os pilotos brasileiros que vieram depois? 
Talvez prejudique um pouco, mas o que mais prejudica o piloto brasileiro é a nossa cultura. Não podemos discutir se está certo ou errado. Cada país tem um jeito de ser. Aqui no Brasil, só vale a vitória, seja o esporte que for. Tanto é que brasileiro fala: “Ah, eu gosto de F1”. Não é muito verdade. Gosta de vitória, pois teve Emerson, Piquet e Senna. Agora, não tem brasileiro vencendo, a audiência cai. Brasileiro gosta de futebol porque o Brasil é o país do futebol. Mas aí de repente gosta do vôlei porque está ganhando. Gostava do tênis na época do Guga. Agora, acompanha natação por causa do Cielo. Brasileiro segue vitória. Na Europa, quando os caras gostam de um esporte, os caras seguem. Eu sempre uso um exemplo. Lembro uma vez, em Brands Hatch, corrida de F3, 8h da manhã, um frio, chuva, e na arquibancada tinha uns caras com guarda-chuva, capa de chuva, geladeira térmica, sanduichinho e café para ficar lá o dia inteiro. E não estavam para torcer para ninguém. Se tivesse algum piloto, estariam no box. Eles estavam lá para ver corrida de carro. Os caras gostam de corrida. Eu não estaria no lugar deles. Eles gostam mais do que eu! Isso é gostar de um esporte. Aqui no Brasil, não. Os caras vão mais pelo “auê”, pelo negócio, pela mulherada, pelo programa, pelo status de estar lá. São muito poucos os que seguem de verdade. O país tem problemas no dia a dia e boa parte do público não é realizado na sua vida pessoal, no seu trabalho. Diferente do europeu que tem um outro nível de qualidade de vida. E o brasileiro, por ser mais carente, busca mesmo. Os caras viam o Senna, mal ganhavam um salário mínimo, viam o cara lá subir no pódio com a bandeira brasileira, era uma vitória do cara. Em algum momento, o cara se sentia mais orgulhoso de ser brasileiro. Se ele não está vencendo, o cara procura outra coisa. E quando não tem vitória, caem de pau em cima. Descem a lenha sem conhecimento.

Pois eu posso dizer que gosto de F1. Gosto mesmo. Mesmo quando odeio... rsrsrs... Desde 2006 vou os GPs e todo ano digo que será meu último, mas estou lá no ano seguinte. Só que o Burti falou é verdade, o brasileiro gosta de quem está vencendo. As Olimpíadas de Londres são a prova disto. Criticam Cielo por não ter conseguido o ouro e não veem o quão fodástico o cara tem sido nos últimos 4 anos, vencendo tudo o que disputou. Não deu para ser ouro, paciência, mas de Pequim para Londres, ele foi o único que permaneceu no top, entre os 3 melhores. Ele continua entre os melhores, e isto com certeza é o que faz do cara um campeão, permanecer entre os melhores mesmo quando não se pode vencer sempre. E concordo com o que Burti disse, os caras curtem as coisas pela bagunça, não pelo esporte. E isto definitivamente passa pelo viés cultural. O Brasil é um país que não tem a cultura do esporte, tem a cultura do futebol. E ponto. E só para deixar claro, antes que me joguem pedras, eu gosto de futebol ok? Gosto mesmo, só que eu gosto demais de outros esportes também e me dói ver como nosso país tem potencial para vencer em outras modalidades esportivas e não ter o apoio que merece.

Bom, acho que falei demais. Espero que leiam a entrevista de Luciano Burti, porque terá uma segunda parte.

Beijinhos, Ludy

Comentários

fanny disse…
Ludy, como francesa, posso te falar que não dar oi ou bom dia não deve ser mal-visto num time pelo menos metade frances. É só uma coisa bem comum ! rs
Manu disse…
Esse negócio de "bom dia", afff... Eu tenho um professor que um dia em que eu e minha amiga fomos na sala dele, fazer vista de prova, chegamos e falamos "Bom Dia!" como é normal. E ele perguntou: "Porque 'bom dia'? Quem inventou isso, que somos obrigados a falar 'bom dia' para as pessoas que encontramos? Vcs acham que isso resolve em alguma coisa para a pessoa?"

Ele tem um lance meio estranho, mania de perseguição e tal. Mas é o único cara que respeito muito naquela universidade. Por ele, essa saudação é forçada e falsa. Ele foi sincero, pelo menos, mas não é do tipo que não se interessa por nós, alunos. Ele foi até hoje sempre muito respeitoso em querer sempre saber se estamos bem e pronto para ajudar em qualquer dificuldade. "Bom dia" ou frieza, não é desmérito, muito menos falta de educação.

Sem falar que eu tenho um amigo virtual finlandês, que uma vez me disse que o que ele mais achava estranho nos compatriotas, é o fato de não conversarem no metrô. Ele nunca havia visto alguém dizer 'bom dia' para um estranho em nenhum lugar público. As vezes ele sente que o brasileiro é um povo bom, exatamente por "puxar papo" o tempo todo, independente de quem seja.

Porque então deixar de comentar a personalidade dos outros, e simplesmente optar por respeitar as diferenças? Ninguém é igual e é muito ruim quando vc molda a pessoa a seu gosto.
É a intolerância que me deixa sempre "p" da vida.

Mas enfim, em todo caso, Burti foi até sensato. Mesmo assim é um perigo para aqueles que não sabem ler ou não tem a cabeça aberta para tentar ver o outro lado das coisas.

=*

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