Coluna Warm Up: "Faça o Galvão berrar" - Flávio Gomes
Coluna Warm Up: Faça o Galvão berrar
Bruno Senna essa é sua grande chance na F1, e não é qualquer um que ganha uma chance dessas quase aos 28 anos. A Renault não é uma equipe ruim, faz pontos em quase todas as corridas, você vai ter oito GPs para mostrar serviço, e pode ter certeza que essa oportunidade não chegou só porque você é sobrinho do Ayrton
Meu caro Bruno Senna.
É sua grande chance na F1, e não é qualquer um que ganha uma chance dessas quase aos 28 anos. A Renault não é uma equipe ruim, faz pontos em quase todas as corridas, você vai ter oito GPs para mostrar serviço, e pode ter certeza que essa oportunidade não chegou só porque você é sobrinho do Ayrton.
Ajuda, claro. Mas esse parentesco lhe é perverso, na maioria das vezes. Foi por causa dele que você começou tarde e foi obrigado a queimar etapas. E olha que queimar etapas no automobilismo de ponta é difícil. Mesmo assim, pode-se dizer que você não decepcionou. Se não foi muito melhor do que ninguém na F3 e na GP2, esteve longe de ser pior do que a média. Bem longe. Ganhou corridas e brigou por títulos. Não, você não decepcionou como decepcionaram, por exemplo, os filhos do Lauda e do Prost. Você é do ramo, sem dúvida.
Mas ser do ramo não basta, você já percebeu isso. E mesmo seu parentesco não lhe garantiu nada. Afinal, só agora pintou um carro e uma chance, então aproveite.
E quer saber o que é mais importante neste fim de semana? Mais do que ganhar a confiança dos mecânicos e dos engenheiros, agradar o chefe, chegar nos pontos? É importante fazer o Galvão berrar.
Sim, isso mesmo. Sei que parece um tanto estranho reduzir seu GP de estreia, porque é praticamente uma estreia, a um objetivo aparentemente frívolo, mas vai por mim. Faça o Galvão berrar.
E não é muito difícil. Não se preocupe com o resultado final, com o discurso fácil de que o importante é chegar ao fim, tentar marcar alguns pontos. Pense nisso depois. Domingo, preocupe-se apenas em fazer o Galvão berrar.
Comece queimando a largada. Na hora, ninguém vai ver. Os comissários levam algumas voltas para mandar fazer um drive-through, e até lá o Galvão já terá berrado bastante por sua largada extraordinária. Você vai aparecer no pelotão da frente no começo da corrida, se der sorte disputa uma freada com o Hamilton, ou com o Vettel, que anda meio lerdo, aparece entre os primeiros no computador, isso pega bem.
Quando pagar a punição, não perca muito tempo com estratégias e cálculos e vá imediatamente atrás da Hispania, da Virgin e da Lotus. São seis ultrapassagens garantidas. E não faça ultrapassagens banais. Escolha alguns pontos da pista onde dê para fritar pneu, ou mesmo subir numa zebra com alguma violência. O Galvão vai berrar como louco, vai dizer que você está com a faca nos dentes, que lembra o tio e coisa e tal. As pessoas acreditam nessas coisas, e pode ter certeza que cada ultrapassagem dessas será repetida em todos os telejornais.
Combine com seu engenheiro para voltar dos pit stops com pneus novos sempre atrás de alguém que esteja com pneus bem velhos, um segundo e meio mais lentos, mesmo se o cabra em questão estiver uma volta na sua frente. Passe, também. E não esqueça do lance das freadas fortes, ultrapassagens assim são muito mais vistosas.
Se acontecer de quebrar um bico, ou furar um pneu, torça para que seja longe da entrada dos boxes. Não se incomode em dar uma volta inteira com o carro todo arrebentado. Seu tio fez isso uma vez na Austrália e passa na TV até hoje.
São medidas simples, que podem não trazer nenhum resultado prático em termos de pontos e classificação, mas serão utilíssimas para seu futuro. A cada berro do Galvão, alguém no Brasil vai suspirar, saudoso. Ainda mais que o carro é preto e dourado, não faz mal que não tem nada da Lotus que seu tio guiou, isso só os entendidos sabem, e entre esses nostálgicos brasileiros sempre tem um presidente de empresa, um diretor de marketing, um dono de agência de publicidade.
Depois, em Monza, trate de fazer o que você sabe. Boa sorte.
Fonte: Grande Prêmio/ Por Flávio Gomes
Flávio Gomes é meu ídolo no meio jornalístico esportivo. Não concordo com todas as opiniões dele, mas é assim mesmo, não podemos concordar com todo mundo em tudo, faz parte da vida discordar.
E por que digo que ele meu ídolo? Porque o cara escreve como poucos no meio esportivo. E eu simplesmente adoro como ele coloca em palavras situações como a acima, a chance, a reestreia de Bruno Senna na F1.
Gostei demais do texto, a maneira como Gomes analisou toda a situação, contou o que provavelmente acontecerá na prova em se tratando de Galvão e o sobrenome Senna, mas como singela e delicadamente, no final desejou um boa sorte ao rapaz. Perfeito, porque é o que Bruno mais precisará, não pelo que enfrentará nas pistas ou em sua luta para agarrar esta oportunidade única, mas pelo que vai enfrentar fora das pistas e todos nós sabemos o porquê.
Beijinhos, Ludy
Bruno Senna essa é sua grande chance na F1, e não é qualquer um que ganha uma chance dessas quase aos 28 anos. A Renault não é uma equipe ruim, faz pontos em quase todas as corridas, você vai ter oito GPs para mostrar serviço, e pode ter certeza que essa oportunidade não chegou só porque você é sobrinho do Ayrton
Meu caro Bruno Senna.
É sua grande chance na F1, e não é qualquer um que ganha uma chance dessas quase aos 28 anos. A Renault não é uma equipe ruim, faz pontos em quase todas as corridas, você vai ter oito GPs para mostrar serviço, e pode ter certeza que essa oportunidade não chegou só porque você é sobrinho do Ayrton.
Ajuda, claro. Mas esse parentesco lhe é perverso, na maioria das vezes. Foi por causa dele que você começou tarde e foi obrigado a queimar etapas. E olha que queimar etapas no automobilismo de ponta é difícil. Mesmo assim, pode-se dizer que você não decepcionou. Se não foi muito melhor do que ninguém na F3 e na GP2, esteve longe de ser pior do que a média. Bem longe. Ganhou corridas e brigou por títulos. Não, você não decepcionou como decepcionaram, por exemplo, os filhos do Lauda e do Prost. Você é do ramo, sem dúvida.
Mas ser do ramo não basta, você já percebeu isso. E mesmo seu parentesco não lhe garantiu nada. Afinal, só agora pintou um carro e uma chance, então aproveite.
E quer saber o que é mais importante neste fim de semana? Mais do que ganhar a confiança dos mecânicos e dos engenheiros, agradar o chefe, chegar nos pontos? É importante fazer o Galvão berrar.
Sim, isso mesmo. Sei que parece um tanto estranho reduzir seu GP de estreia, porque é praticamente uma estreia, a um objetivo aparentemente frívolo, mas vai por mim. Faça o Galvão berrar.
E não é muito difícil. Não se preocupe com o resultado final, com o discurso fácil de que o importante é chegar ao fim, tentar marcar alguns pontos. Pense nisso depois. Domingo, preocupe-se apenas em fazer o Galvão berrar.
Comece queimando a largada. Na hora, ninguém vai ver. Os comissários levam algumas voltas para mandar fazer um drive-through, e até lá o Galvão já terá berrado bastante por sua largada extraordinária. Você vai aparecer no pelotão da frente no começo da corrida, se der sorte disputa uma freada com o Hamilton, ou com o Vettel, que anda meio lerdo, aparece entre os primeiros no computador, isso pega bem.
Quando pagar a punição, não perca muito tempo com estratégias e cálculos e vá imediatamente atrás da Hispania, da Virgin e da Lotus. São seis ultrapassagens garantidas. E não faça ultrapassagens banais. Escolha alguns pontos da pista onde dê para fritar pneu, ou mesmo subir numa zebra com alguma violência. O Galvão vai berrar como louco, vai dizer que você está com a faca nos dentes, que lembra o tio e coisa e tal. As pessoas acreditam nessas coisas, e pode ter certeza que cada ultrapassagem dessas será repetida em todos os telejornais.
Combine com seu engenheiro para voltar dos pit stops com pneus novos sempre atrás de alguém que esteja com pneus bem velhos, um segundo e meio mais lentos, mesmo se o cabra em questão estiver uma volta na sua frente. Passe, também. E não esqueça do lance das freadas fortes, ultrapassagens assim são muito mais vistosas.
Se acontecer de quebrar um bico, ou furar um pneu, torça para que seja longe da entrada dos boxes. Não se incomode em dar uma volta inteira com o carro todo arrebentado. Seu tio fez isso uma vez na Austrália e passa na TV até hoje.
São medidas simples, que podem não trazer nenhum resultado prático em termos de pontos e classificação, mas serão utilíssimas para seu futuro. A cada berro do Galvão, alguém no Brasil vai suspirar, saudoso. Ainda mais que o carro é preto e dourado, não faz mal que não tem nada da Lotus que seu tio guiou, isso só os entendidos sabem, e entre esses nostálgicos brasileiros sempre tem um presidente de empresa, um diretor de marketing, um dono de agência de publicidade.
Depois, em Monza, trate de fazer o que você sabe. Boa sorte.
Fonte: Grande Prêmio/ Por Flávio Gomes
Flávio Gomes é meu ídolo no meio jornalístico esportivo. Não concordo com todas as opiniões dele, mas é assim mesmo, não podemos concordar com todo mundo em tudo, faz parte da vida discordar.
E por que digo que ele meu ídolo? Porque o cara escreve como poucos no meio esportivo. E eu simplesmente adoro como ele coloca em palavras situações como a acima, a chance, a reestreia de Bruno Senna na F1.
Gostei demais do texto, a maneira como Gomes analisou toda a situação, contou o que provavelmente acontecerá na prova em se tratando de Galvão e o sobrenome Senna, mas como singela e delicadamente, no final desejou um boa sorte ao rapaz. Perfeito, porque é o que Bruno mais precisará, não pelo que enfrentará nas pistas ou em sua luta para agarrar esta oportunidade única, mas pelo que vai enfrentar fora das pistas e todos nós sabemos o porquê.
Beijinhos, Ludy
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