Coluna "Velocidade e batom": 2010, o ano do recomeço

Rali da Grã-Bretanha 2010

"2010: O ano do recomeço" por Ludmila Coimbra

Quando o desafio de participar do Mundial de Rali, o famoso WRC, tornou-se uma realidade na carreira de Kimi Räikkönen, confesso que fiquei preocupada. Conseguiria ele se adaptar a um esporte tão diferente daquele em que ele se desenvolveu como piloto profissional? Seria ele capaz de provar aos outros competidores e aos mais fanáticos admiradores da categoria que o desejo dele em competir pelas estradas do WRC não era apenas uma brincadeira, mas sim um sonho antigo?

Hoje, nove meses após a primeira etapa, na Suécia, depois de toda uma temporada realizada, de aprendizado, erros e ensinamentos, o que ficou? O que Kimi Räikkönen conseguiu fazer e que mostrou que vale a pena continuar?

Eu sou suspeita para responder a esta pergunta, mas também sou aquela que pode dizer com toda certeza, Räikkönen fez aquilo que qualquer aprendiz faria, foi corajoso em enfrentar este desafio, foi humilde em aceitar a ajuda de quem está lá há muito mais tempo do que ele, foi, em todo momento, verdadeiro e sincero, sabendo o que o esperava e que os resultados não seriam possíveis como ele estava acostumado. E tenho plena certeza, sugou cada milímetro de aprendizado possível daqueles grandes pilotos que competiram com ele, e obviamente, dos erros que cometeu.

Rali da Grã-Bretanha 2010

Da primeira etapa na Suécia, a grande estreia, com a clássica cena dele tirando neve com uma pazinha de plástico, passando pelo México, onde aquele acidente cinematográfico foi manchete em todos os lugares, até a última, no País de Gales, Kimi passou por poucas e boas, mas foi uma boa jornada e ele finalizou seu campeonato de estreia no WRC conquistando 25 pontos, entre os dez melhores pilotos de rali do mundo. É pouco? Claro que não, é coisa à beça!

E analisando a temporada de Räikkönen podemos apontar como pontos positivos o Rali da Jordânia, o primeiro em que ele pontuou (ao ficar na oitava posição), tendo logo em seguida, o Rali da Turquia, onde ele alcançou o seu melhor resultado, ao finalizar a etapa na quinta colocação, com um excelente desempenho. E não podemos esquecer é claro, da primeira vitória em uma especial, que aconteceu no asfalto de Trier, na Alemanha, quando Räikkönen e Lindström foram os mais rápidos na SS19, a última especial do evento, que ele terminou na sétima posição. Além do ótimo desempenho que encerrou sua temporada, no Rali da Grã-Bretanha, há uma semana.

Como pontos negativos os destaques ficaram por conta do Rali da Bulgária, onde a superfície era de asfalto, o percurso era novo para todos, Kimi poderia levar vantagem com relação isto, estava em quarto na classificação geral, mas sofreu um acidente que comprometeu seu rali. Ele se recuperou, terminou em 11º, mas ficou um gostinho de quero mais. As outras lembranças não tão boas ficaram com os Ralis da Finlândia (terminou em 25º. Em função de acidentes), do Japão (que ele não completou) e o pior de todos, da Espanha, onde um acidente no shakedown danificou a gaiola de proteção de seu C4 WRC e o impossibilitou de participar do evento.

Rali da Grã-Bretanha 2010

E depois disto tudo, já podemos então dizer que ele é um piloto de rali? Um piloto de rali iniciante, sim! Completo, definitivamente não. Kimi é hoje um piloto completamente novo, um profissional que está aprendendo a adaptar todo o seu talento e estilo de pilotagem a uma categoria completamente distinta daquela em que um dia ele conquistou o mundo ao ser campeão. Se ele vai conseguir, só o tempo dirá. Mas eu tenho a sensação que sim, ele vai conseguir.

Se optar permanecer no WRC, Kimi dará continuidade a sua caminhada, ao seu recomeço, a sua nova carreira de piloto, e o tempo ajudará em seu desenvolvimento, enquanto o seu esforço e seu talento o ajudarão a vencer os complexos desafios do mundo do rali.

E eu, Ludy, continuarei junto, varando as madrugadas, ouvindo a rádio do WRC, dando F5 no live timing do site do WRC que vira e mexe dá pau, procurando vídeos no you tube, fazendo amigos ao redor do mundo e mesmo que a saudade de vê-lo ao vivo mais uma única vez bata forte, ou que a sensação da vitória seja apenas um sonho distante, ainda, eu não vou desistir. O rali faz Kimi feliz, o aceitou sem preconceitos, o acolheu de braços abertos e por isto, serei eternamente grata ao WRC e sei que no final, valerá a pena.

Rali da Grã-Bretanha 2010

Para encerrar, deixo um vídeo de uma apresentação de sexta, dia 19, do Take That (músicas já usadas por mim aqui no blog) e que por razões diferentes, representam um pouco deste ano de adaptação pelo qual passamos nós, os fãs de Kimi Räikkönen e o próprio piloto.

A primeira canção “The Flood” representa nós, os fãs do Iceman, que este ano nadamos contra a maré, contra o desconhecido, enfrentamos preconceitos, que assim como ele recomeçamos e aprendemos, mas não abandonamos o barco, e agora, estamos prontos para o que der e vier, mesmo que os resultados esperados demorem para chegar.

Although no one understood
We were holding back the flood,
Learning how to dance the rain.
We were holding back the flood
They said we'd never dance again.

E a segunda música representa Kimi e o seu recomeço através da letra e pela apresentação do Take That neste vídeo em especial. Há 15 anos estes cinco ingleses não cantavam esta música juntos. Este grupo que começou com 5 integrantes, que se defez de um deles em 1995, que se separou por completo em 1996, voltando em 2005 como quarteto, este ano retomou a sua formação original. Estão recomeçando, reaprendendo a trabalhar como grupo, tendo que respeitar suas individualidades, suas histórias, carreiras e principalmente, lidar com suas falhas. Assim vejo Kimi hoje, um piloto que após anos sendo dono de seu próprio nariz, tendo conquistado o mais alto prêmio que sonhava, tem que recomeçar, reaprender a pilotar, a respeitar seu limite, lidar com suas falhas, trabalhar em dupla, sem nunca, porém, esquecer de onde ele veio, de onde vem a paixão que o faz pilotar e que por isto, o torna tão especial.

We've come so far and we've reached so high
And we've looked each day and night in the eye
And we're still so young and we hope for more
But remember this
We're not invincible, we're not invincible - No
We're only people, we're only people
Hey we're not invincible, we're not invincible
So again I'll tell you

Never forget where you're coming from
Never pretend that it's all real
Someday soon this coud be some else's dream

Rali da Finlândia 2010

Beijinhos, Ice-Ludy