Bruno Senna: "Estou chegando na F-1 por méritos próprios"

Em entrevista à rádio Bandeirantes na tarde deste sábado, Bruno Senna, piloto da Campos, falou a respeito de diversos assuntos _entre eles sua estreia na F-1, o desenvolvimento de sua equipe e as comparações com seu tio, o lendário Ayrton Senna.

O jovem brasileiro mostrou desenvoltura e segurança ao lidar com a pressão de carregar um dos sobrenomes mais bem-sucedidos da história da categoria: "Sempre tive que absorver a pressão por causa do sobrenome, desde a primeira corrida", disse.

Com metas realísticas para sua temporada de estreia na F-1, Senna destacou que chega à categoria máxima do automobilismo por seus próprios resultados, não por ter um sobrenome famoso: "Eu sou o Bruno, não sou o sobrinho do Ayrton. Vencer corridas é o que vai criar minha imagem".

Confira os principais trechos da entrevista:

Parceria da Campos com a Cosworth

"Acho que a Cosworth vai fornecer um material parecido para todas as equipes, porque é interessante fazer o melhor desenvolvimento possível. Ainda há muito o que aprender com o novo regulamento da F-1 [para 2010]. O maior desafio será fazer o motor consumir menos combustível. A experiência de uma equipe como a Williams fará toda a diferença para eles."

"Imagino que as diferenças entre os motores das novas equipes não serão grandes. O pessoal da Campos já tem um dos melhores relacionamentos com a Cosworth, foi a primeira das novas equipes a firmar contrato com eles, então parece que eles estão fazendo um trabalho bem interessante desde o começo."

A expectativa em torno do sobrenome Senna

"Realmente, a gente tem uma tarefa um pouco difícil na F-1, que é superar a expectativa das pessoas. Mas como eu sempre disse, isso sempre foi uma constante na minha carreira. Sempre tive que absorver a pressão por causa do sobrenome, desde o primeiro treino, a primeira corrida, quando as pessoas ficaram olhando e comparando com alguém que é relacionado a você."

"O Ayrton foi super bem sucedido na F-1 e na carreira dele em geral, então vou ter que 'ralar' um pouco, mas tenho certeza de que os resultados que tive na minha carreira não vieram por causa do sobrenome. Eu realmente me esforço muito para conseguir atingir os meus objetivos e, em pouco tempo, tive um bom sucesso."

A adaptação à F-1

"Todo ano há uma coisa nova para aprender e para se acostumar. Mas, na verdade, estou um pouco tranquilo e aliviado, porque a parte da negociação é um pouco mais desgastante do que o esforço em termos esportivos, de estar com a equipe... Ter os pés no chão ali, em um lugar sólido no qual vou poder focar meu trabalho, me faz ter muito mais energia, muito mais vontade de malhar e de gastar tempo fazendo as coisas que vão me levar para frente ao invés de ficar negociando. Essa parte é mais estressante do que a parte esportiva em si."

Mérito por resultados, não pelo sobrenome

"Com certeza o sobrenome ajuda, porque hoje em dia é muito difícil conseguir patrocinadores e parcerias. Tive este privilégio de poder utilizar meu sobrenome para fazer com que a imprensa se interessasse por mim. Mas nada disso vem de graça. Sei que se eu tivesse uma performance muito baixa, se eu não fosse um piloto capaz, não teria nenhum dos benefícios desse sobrenome."

"Isso tudo é por trabalho e por dedicação. Não tenho nenhum sentimento de ter tido vantagem sobre outras pessoas, porque sei que a única razão pela qual tive a oportunidade de ter os patrocínios e a publicidade que eu tenho são os resultados que tive desde o começo. A prova disso é que no meu primeiro ano [de automobilismo], em 2005, o numero de parcerias que eu tinha era muito baixo. A partir do momento em que eu tive bons resultados, empresas como Embratel e Santander tiveram a confiança de se ligar a mim. Com certeza isso me traz bastante segurança de que estou chegando lá por mérito, e não por causa do sobrenome."

"Tive boa performance em todos os carros em que eu andei. Não tenho como dizer que a GP2 é o único lugar para você demonstrar potencial. O [Kamui] Kobayashi não teve anos bem sucedidos na GP2, com exceção da versão asiática da categoria, onde ele foi campeão, mas na europeia, não sei se por causa da equipe, mas a performance dele não foi muito a par do que ele fez na F-1. Então, realmente, isso faz com que as coisas sejam um pouco mais difíceis de se classificar. Mas com certeza, como piloto, você tem que saber andar rápido no carro que for. É isso que faz um piloto ser bom."

Expectativa pelo companheiro de equipe

"O ideal seria um piloto experiente pra ajudar a equipe. O Pedro de La Rosa seria uma ótima opção nesse aspecto, porque ele tem a experiência da McLaren, vai ajudar a equipe a se desenvolver e andar em um caminho mais sólido. Para mim, seria ótimo aprender com ele. Também tem a questão do piloto que traz dinheiro e patrocínio, o que em uma equipe nova é algo fundamental."

"Tem um lado bom para cada parte, mas se eu pudesse escolher, com certeza eu escolheria o piloto experiente, para poder aprender mais rápido. Não tive muito contato com a equipe a respeito disso, estamos focados mais no desenvolvimento do carro, mas imagino que nos próximos dias eu tenha mais um pouco de informação sobre isso. Não sei a quantas anda a negociação deles com outros pilotos, mas acho importante eles tomarem uma decisão mais cedo, para que os dois pilotos trabalhem juntos e levem a equipe pra frente."

Rivalidade com Barrichello?

"Absolutamente não. Preciso deixar bem claro que só esportistas conhecem como funciona a competição dentro do esporte. Tive alguns anos para aprender a respeito disso. A gente está disputando, o esporte é um ambiente extremamente predatório e todo mundo quer vencer. Se um vence, o outro não vence."

"Disputa por vaga é algo que acontece e não tenho nenhuma mágoa. Minha relação com o Rubinho continua saudável como sempre foi, e com relação aos outros pilotos é a mesma coisa. Tem sempre a 'máfia' brasileira no paddock, a gente se reúne e fica fazendo piada de todo mundo [risos]. Sempre cria-se uma rixa com um piloto quando há um encontro ou um toque na pista, mas tirando isso, tudo acontece numa boa."

Nenhuma verba para a equipe

"Não levamos patrocínio para a equipe. O contrato que fechei com a Campos não dependia de nenhum termo financeiro, e o que vamos fazer agora é trabalhar juntos para criar picos de patrocinadores com a equipe. Este é o objetivo agora. Foi uma proposta muito boa que eles fizeram para mim, porque eles apostaram no meu potencial de performance e no potencial que teremos para conquistar patrocínios com o meu nome."

Os objetivos para 2010

"É claro que, como todo piloto competitivo, eu adoraria poder marcar pontos e fazer pódios, mas temos que ajustar as expectativas com as condições apresentadas. Vou ajustar as expectativas de acordo com a performance do carro. Eu gostaria realmente de marcar pontos no ano que vem, mas o primeiro objetivo mesmo, para a primeira corrida, é chegar ao fim, sem problemas mecânicos ou de performance, e aprender durante o campeonato. Claro que se o carro for maravilhoso desde a primeira corrida, espero ficar entre os cinco primeiros, mas realisticamente, o primeiro objetivo é terminar a corrida e ir aprendendo aos poucos."

"Não tenho receio de ser agressivo"

"Acho que não tenho muito como mudar minha filosofia de trabalho de competição. Vou com certeza fazer sempre o meu máximo. Definitivamente, no começo, tenho que tomar um pouco de cuidado, mas vou fazer sempre o máximo durante as corridas. Não tenho receio de atacar e de fazer as coisas com agressividade. É importante não se sentir acuado pelo fato de estar na F-1. Você tem sempre que fazer o melhor trabalho possível. O Kobayashi provou isso de uma forma muito interessante e eu sou partidário da filosofia dele."

Os primeiros eventos como piloto da Campos

"Das equipes novas, a Campos tem o carro mais adiantado. Já passou nos dois crash tests, frontal e lateral, que são os mais importantes, e isso me passa muita confiança. A equipe está arcando com os custos de forma bem positiva, não há corte de trabalho por causa da parte financeira. Isso me inspira muita confiança, porque esta é uma parte muito importante."

"Amanhã vou pra Itália, ver o carro, molde do banco, ajustar o monocoque, trabalhar com o volante... Segunda-feira será um dia bem importante para o começo do desenvolvimento da equipe comigo. A apresentação oficial será na terça-feira, em Murcia [na Espanha], onde fica a sede da equipe, então as coisas já começam a ficar mais oficiais neste sentido."

As comparações com Ayrton

"A melhor forma de evitar as comparações é ter meus próprios resultados e meu próprio sucesso. Não tenho que ficar falando que não quero seguir os passos do Ayrton, que não quero ser melhor ou pior do que ele. É importante chegar na pista, fazer um bom trabalho e é isso que eu tento fazer. Minha imagem se tornou mais forte com as pessoas de dentro e fora do automobilismo a partir do momento que eu obtive resultados. Vencer corridas é o que vai criar minha imagem de Bruno, não de sobrinho do Ayrton."

"Eu sou o Bruno. Estou chegando na F-1 por méritos próprios, não porque tenho um sobrenome importante."

Fonte: Tazio

Excelente entrevista de Bruno. Eu sempre achei o piloto muito consciente do que representa este seu lugar no automobilismo. Não o vejo como o sobrinho do tricampeão. É óbvio que vou me emocionar quando o olhar para ele naquele grid, mas por tudo que o nome dele trará de volta. Só isto.

Sei que ele vai lutar pelo seu espaço. Vai dar o melhor que tem! Não conheço o talento do rapaz, não posso falar, mas ele é seguro, ele parece preparado psicologicamente para o maior desafio de sua carreira. Vencer na F-1 como Bruno Senna e não como o sobrinho de Ayrton Senna.

Beijinhos, Ice-Ludy

Comentários

José Renato disse…
Bruxo Senna nem piloto é ainda.
Uma forçação de barra danada.
Bem, eu espero muito, mas muito, ver um duelo na Hungria novamente, dessa vez entre o Nelsinho e o Bruxo, e mais uma vez com um gesto bacana pra cima do Senninha.

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