Jochen Rindt " A Morte e o Título Mundial" - Relato de Emerson Fittipaldi

Amo História, amo Biografias e amo F1.
Aproveito esse intervalo pré-GP do Brasil, para mostrar um pouco para vocês, sobre os momentos finais da vida de Jochen Rindt, pelos olhos de seu último companheiro de equipe, Emerson Fittipaldi.
Vale a pena, uma verdadeira aula de História, História da F1, é claro...

Jochen Rindt – A morte chegou na véspera

“Quando o alto-falante de Monza anunciou que o treino começaria em cinco minutos, o Jochen bateu nas minhas costas e nós dois fomos para os nossos carros. Eu estava muito chateado, porque um dia antes, nos treinos da sexta-feira, tinha recebido a ordem do Colin Chapman de amaciar o Lotus do Jochen, e acabei foi destruindo o carro numa escapada da curva Parabólica (controvérsia, parece que foi uma batida contra a Ferrari de Ignacio Giunti). Embora fosse um cara muito objetivo, o Jochen tentou me tranqüilizar e nem tocou no assunto.

(...) Eu vivia a expectativa de correr pela primeira vez num Lotus 72. Minhas primeiras voltas pareceram um sonho. Quase não acreditava que, em apenas três meses de F1, eu pudesse estar pilotando aquele foguete.

Saímos para a classificação, o Jochen com o Lotus 72 e eu com o carro reserva. Na terceira volta, aconteceu a tragédia: eu vinha na reta que antecede a Parabólica quando identifiquei o Lotus do Jochen destruído e ele ainda dentro do carro. Parei no boxe e soube que fora retirado com vida e levado para o hospital em estado gravíssimo.

Aquele Lotus era o carro mais revolucionário da época. Tinha um sistema de freio diferente, que brecava no semi-eixo traseiro, na saída da caixa de cambio e não nos discos colocados nas rodas, como funcionavam os freios convencionais dos F1.

Entretanto, o sistema dependia da resistência das barras de torção, e elas é que acabaram causando o acidente fatal. O Jochen deve ter freado com muita força, uma das barras quebrou, ele perdeu o controle do carro, bateu de frente e morreu vitimado por uma fratura no pescoço e por lesões internas.

Confesso que senti certo remorso. Se eu não tivesse destruído o carro dele na sexta-feira, talvez ele ainda estivesse vivo.

Colin Chapman determinou que não competiríamos mais naquele GP da Itália de 1970 e saiu imediatamente do país com medo de ser detido pela polícia italiana. Ele temia que voltassem a acusá-lo de negligência técnica, sob a alegação de que a fragilidade de seus carros é que havia provocado o acidente de Rindt. Isso já havia acontecido dois anos antes, no caso de Jim Clark, morto num teste com o Lotus F-2 em Hockenheim, na Alemanha.

Maria Helena e eu voltamos à Inglaterra e, além da tristeza pela tragédia do Jochen, achei que minha carreira na F1 estava ameaçada. Tinha certeza de que o Colin Chapman buscaria um substituto para Rindt entre os melhores pilotos da época. Foram dias angustiantes. (...) Chapman mandou me chamar e comunicou que não só iríamos competir em Watkins Glen como eu seria o primeiro piloto.

Lembro-me perfeitamente de que ele me olhou e disse: ‘Emerson, vamos para Watkins Glen. Você só tem a obrigação de pilotar com cuidado e terminar a prova. Em 1971 vamos partir do zero.'

(...) Os jornais e revistas anunciavam que eu substituiria o grande Jochen Rindt e me jogavam uma enorme responsabilidade, porque se eu vencesse aquela corrida daria o título de campeão post mortem a Rindt. O belga Jacky Ickx, o único que ainda tinha chances matemáticas de ganhar o título, precisava da vitória para alcançar os 45 pontos do Jochen.
Só em sonho eu podia imaginar vencer um Grande Prêmio de F1 na minha quarta corrida.

Liberei-me do compromisso de vitória e me concentrei em fazer o melhor que pudesse. Tive febre durante os treinos, mas no dia da corrida me sentia melhor.

Ickx classificou-se em segundo lugar no grid e eu atrás dele. Larguei bem, mas ainda ouvia a ordem de Chapman para que eu corresse com prudência. Tinha chovido e a pista molhada dificultava o controle do Lotus, mas eu estava determinado a chegar ao fim da prova e me sentia confortável.

O mexicano Pedro Rodriguez, da BRM, ponteou desde o início, com o Jackie Stewart, da March-Ford, em segundo. O Ickx, da Ferrari, o grande adversário, estava em terceiro, à minha frente. Mantive-me nessa posição até a metade da corrida, pensando no melhor momento de atacar Ickx. A oportunidade surgiu e ultrapassei o belga. Só quando vi, pelo retrovisor, a Ferrari ficar para trás é que admiti a idéia de vencer a corrida e de transformar Jochen Rindt no campeão da temporada.

Minhas chances aumentaram quando o motor do carro do Stweart soltou fumaça, e o sonho ficou perto de se tornar realidade quando vi o BRM do Pedro Rodriguez parar no boxe para reabastecer, a cinco voltas do final. Eu era o líder da corrida. Suspirei fundo e voltei a ouvir o Chapman: “Pilote com prudência e termine a prova”.

Cruzei a bandeirada, vi os boxes em festa e liberei toda a emoção trancada no coração. Chorei, chorei muito. De felicidade, porque tinha vencido um GP de F1 e por ter dado o título mundial a Jochen Rindt. Mas também chorei de tristeza, porque Jochen não estava ali para receber o troféu.

Eu tinha vivido duas semanas de intensa emoção. Sofri com o lado amargo da tragédia e experimentei o gozo da vitória. Começava a entrar na realidade da F1.”
Fonte: "A Saga dos Fittipaldi" - Lemyr Martins. EditoraPanda Books, 2004.
***

Algumas fotos do único Campeão Mundial de F1, a conquistar o título depois de morto.

Amanhã, vocês vão conhecer a esposa deste campeão, a belíssima Nina Rindt, segundo Maria Helena Fittipaldi, "a mulher mais linda que já conheci". Aguardem!

Vick

Comentários

Fábio Mota disse…
Sensacional essas histórias da F-1 de outras épocas. Ainda mais contadas por quem a fez.
Manu disse…
Adorei a matéria. É sensacional mesmo!

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