Especial parte 1 - Gilles

Como não somos só nós aqui do Octeto que adoramos este piloto, vou postar um especial de duas partes sobre Gilles Villeneuve publicada no site GP Total, escrito por Giu Ferreira, comentarista da Rede Bandeirantes de Televisão, que transmitiu os GPs de F1 para o Brasil em 1980.
Se quiserem, passem pelo site para ver as fotos do especial. São bem legais, tem inclusive algumas das charges que postei aqui ontem, e história de seus respectivos GPs.

"A vida sem Gilles Villeneuve"

Seis vitórias em 67 corridas, com um vice-campeonato como melhor resultado em quatro temporadas completas. Os números, do ponto de vista de hoje, não chegam a impressionar. Mas eles não importam muito quando se fala em Gilles Villeneuve. Até hoje há quem se lembre do pequeno canadense que em sua curta carreira na F 1 encantou milhares de pessoas em todo o mundo. Certamente contribuiu para isso o fato de ele ter pilotado para a Ferrari durante praticamente toda sua carreira.

A importância de Gilles Villeneuve pode ser mensurada por uma coleção de dez volumes lançada no final dos anos 80 pela editora do respeitado anuário Autocourse. Cada livro foi dedicado a um piloto e Villeneuve foi o único deles que nunca conquistou o título mundial.

No dia 8 de maio de 2002, o desaparecimento de Villeneuve completará 20 anos. O GPtotal preparou este especial para recordar algumas das passagens mais importantes de sua carreira. Muito mais poderia ser dito sobre ele, mas concentramo-nos em suas façanhas na F 1 - aquelas que o tornaram conhecido em todo o mundo.

VOLTA AO PASSADO

Comecei a acompanhar automobilismo no final de 1978, logo após a morte de Ronnie Peterson (um dia eu conto esta história). Eu tinha dez anos de idade e Nelson Piquet, estreando na F 1, já era uma promessa e mostrava muito talento. Foi impossível não me identificar: passei a torcer por ele e também pelo sucesso de Emerson e da equipe Copersucar.

Além dos brasileiros, eu simpatizava com Jody Scheckter, que na época tinha colunas publicadas por uma revista brasileira. Mas não demorou para eu "descobrir" Gilles Villeneuve. A disputa com René Arnoux pelo 2º lugar no GP da França de 1979 teve o efeito de uma pancada na minha cabeça: aquele canadense era realmente corajoso! Depois, a tentativa de andar com três rodas na Holanda mereceu outro comentário: "Que cara louco!" Era tanta vontade de vencer que imediatamente "adotei" Villeneuve como um de meus pilotos preferidos, ao lado de Piquet. Curiosamente, eles só subiram juntos ao pódio uma vez, na Corrida dos Campeões de 1979.

Pesquisar e escrever este especial representou, para mim, uma intensa volta ao passado. Sensações e lembranças adormecidas há muitos anos foram revividas à flor da pele. Parece loucura, mas lembrei até da almofada que eu usava para apoiar minhas costas durante as corridas e do clima que fazia em Santos, onde eu morava, nos dias dos GPs citados. Relembrei a vibração com a vitória na Espanha em 1981 e a tristeza que senti naquele sábado, dia 8 de maio de 1982, quando voltei da praia (a Rede Globo só passou a transmitir os treinos oficiais em 1991) e recebi de minha mãe a notícia de que Gilles havia se acidentado e estava "clinicamente morto".
Este foi um dos trabalhos mais emocionantes que já tive oportunidade de desenvolver. Espero que vocês gostem tanto de lê-lo quanto eu gostei de fazê-lo. (LAP)

No começo, corridas de trenó na neve

Gilles Villeneuve nasceu em 18 de janeiro de 1950 em Chambly, na província de Quebec, no Canadá. Tirou carteira de habilitação em 1966 e comprou em seguida seu primeiro carro, um Skoda. No ano seguinte, fez suas primeiras corridas de motoslitte, um tipo de trenó motorizado para disputar corridas na neve. Conquistou o título mundial da modalidade em 1974, quando já havia começado a correr com carros.

Em outubro de 1970, Villeneuve casou-se com Johann Barthe. Em abril do ano seguinte nasceria o primeiro filho do casal: Jacques, que seguiria a carreira do pai mas pouco se lembra dele nas pistas. A filha mais nova, Melanie, nasceu em 1973.

Até o começo de 1976, Gilles foi um verdadeiro profissional no motoslitte. Mas já em 1971 experimentou o automobilismo, disputando provas de arrancada e turismo com um Ford Mustang. Em 1973, estreou na Fórmula Ford conquistando o título da província de Quebec. Passou para a Fórmula Atlantic (semelhante à F 3) em 1974, mas teve a perna esquerda quebrada em um acidente e só voltou a correr no ano seguinte - disputou três corridas e conquistou uma vitória e um 2º lugar.

Em 1976, Villeneuve abandonou os trenós e tornou-se um profissional no automobilismo. Foi campeão canadense e norte-americano de Fórmula Atlantic, vencendo 9 das 10 corridas do calendário. Nesse mesmo ano, fez sua primeira corrida na Europa: o GP de Pau, válido pelo Campeonato Europeu de F 2, com um March-Hart da equipe Project Four Racing (pertencente Ron Dennis - ele mesmo, o atual dono da McLaren). Largou em 10º e abandonou por superaquecimento. Nada mau, mas não particularmente memorável. Sua participação nessa corrida tinha como único intuito promover mais na Europa o GP de Trois-Rivières, no canadá - uma corrida de Fórmula Atlantic que contaria com a participação de vários pilotos de F 1. Um deles seria James Hunt, que no final do ano conquistaria o título mundial.

Esta corrida foi decisiva para o futuro de Villeneuve. Os pilotos de F 1 que competiram ficaram impressionados com o canadense. Hunt foi mais além e recomendou a Teddy Meyer, então dono da McLaren, que desse uma oportunidade a Villeneuve tão logo fosse possível. Ela só aconteceria no ano seguinte.

Em 1977, Villeneuve permaneceu na F-Atlantic e firmou contrato para disputar a Can-Am pela Wolf-Dallara. Preencheu esta última vaga por indicação de Chris Amon, o piloto que inicialmente fora contratado pela equipe. O veterano neozelandês decidira parar de correr e era mais um que se impressionara com o talento de Villeneuve. Mais tarde, daria ótimas referências sobre o canadense a Enzo Ferrari.
Villeneuve conquistou mais um título canadense de F-Atlantic, mas no final de 1977 isso já pouco importava. Ele já estava na F 1.

"Gilles não ultrapassa aonde pode, ele ultrapassa aonde dá. E aonde não dá ele gosta ainda mais."

Beijinhos, Ludy

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